“Talvez não tenhamos começado isto da melhor forma. O
início. Afinal nunca falámos directamente do porquê de vos termos deixado.”
Os projectos são e serão sempre para mim, e acho que posso
falar também em nome da Sofia, algo excitante que nos deixa muito entusiasmadas
e com vontade de fazer tudo aqui e agora. A verdade é que tenho vindo a perceber
que nada se faz aqui e agora. As coisas levam tempo a acontecer e por mais que
possamos correr, a vida tem sempre uma velocidade preparada para que as coisas
nos aconteçam num determinado momento.
Quando partimos nesta aventura não sabíamos bem o que íamos
encontrar, ou pelo que íamos passar, mas esperávamos encontrar aqui uma forma de
transformar algum stress e excitação em algo produtivo. Certo é, que uma
mudança tem tanto de empolgante quanto de assustador e nem sempre é fácil
encontrarmos o nosso momento para exteriorizar tudo aquilo que nos acontece
diariamente.
Talvez não tenhamos começado isto da melhor forma. O
princípio. Afinal nunca falámos directamente do porquê de vos termos deixado.
Aqui vai:
No dia da Liberdade fez exactamente 2 anos que deixei aquele
que foi o meu primeiro trabalho. Coincidência? Não acredito nelas! Comecei a 1
de Agosto de 2013 e curiosamente estava com a Sofia quando me ligaram do supermercado
em questão a dar a notícia de que tinha ficado com o trabalho. Comecei com muito entusiasmo misturado com nervosismo sem saber o que ia fazer. Disseram-me hoje ficas com a Cristina e percebi que ia para as
caixas. Tinha feito 18 anos em Dezembro e queria ganhar o meu próprio dinheiro,
escolhi não ir para a faculdade antes disso, mas essa história fica para outra
altura. Comecei com um contrato temporário para substituir uma mulher que estava
de licença de maternidade, depois foram renovando até que o último dizia 25 de
Abril e desde então brinquei que seria o dia que ia mesmo sair. Estava longe de
imaginar para quão longe.
O entusiasmo do primeiro dia foi desaparecendo, comecei a
ficar desmotivada por ver a falta de respeito que tinham para com aqueles que
tentavam todos os dias dar o seu melhor. Fui faltando, deixando de fazer
favores, respondendo a quem “não devia” até ter quase a certeza de que não me
iriam renovar o contrato, e assim foi. 25 de Abril não foi o meu último dia fisicamente,
porque tinha férias marcadas antes disso e fui avisada um dia antes de que já
não iria voltar. Agradeci pela oportunidade. No fim das contas foi a minha
primeira experiência profissional. Tive a oportunidade de lidar com o público
nas caixas, fui florista por alguns “minutos”, trabalhei no café, na padaria,
na reposição, fiz de tudo um pouco e gostei. Lidei com pessoas que não sabem
lidar com os outros e com outras que merecem mais do que aturar gente daquela. Cresci
e deu-me um pouco de bagagem para a viagem que vinha a seguir. Conheci, creio
eu, algumas das pessoas que me querem bem e que considero amigos até hoje. Apesar
da distância, e de ser “desligada”, não esqueço as memórias e todas as coisas
que ficam.
O meu pai tinha um casal amigo em Inglaterra e a minha mãe
começou com a ideia de querer vir para cá. Eu só queria mudar, sentir que
estava a fazer algo de novo porque estava farta da rotina. Não foi fácil. Como
a maioria a primeira ideia era ir para Londres, até porque era lá que estava
esse casal. Começámos a perceber que era demasiado caro e a minha mãe, que
estava desesperada por se vir embora, todas as noites procurava no google maps, no booking e em todo o lado, lugares para ficarmos. Lembro-me de uma noite estarmos
a navegar no maps em Manchester e depois Liverpool e quando vi água disse que
era ali, e assim foi. Hoje tenho uma vista incrível sobre o rio Mersey.
O caminho não é fácil e se fosse não valia a pena. Para quem
pergunta quando vou voltar a resposta é não sei. Tenho descoberto que por mais
planos que faça acabo sempre no outro lado da página. Uma coisa é certa, não
estou destinada a ficar no mesmo lugar para sempre, e como podia com um Mundo
inteiro por descobrir?
Tentamos sempre dar o nosso melhor, mas há sempre coisas que nos ultrapassam. Desculpem todos aqueles que nos querem bem pela ausência.
Toda ela.
Saudade sempre.
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